Atrasado...

Deve haver algum motivo. O Universo por algum motivo conspirou, conspirou e cheguei atrasado.
Não é a primeira vez que eu chego atrasado em alguma coisa.
Também não é a primeira vez que eu choro atrasado.
Mas eu preferia não ter chegado.
Preferia continuar ali no canto praguejando que o cara sumiu e não dava notícias, que ele podia ser grande mas eu ia subir num banquinho e dar um catiripapo naquela bochecha gorducha.
Caramba, a gente cresceu junto, apesar de que ele cresceu muito mais.A gente azucrinava os outros juntos. A gente pegava no pé do Ruy e os dois no meu e eu e Ruy nele. A gente fazia barulho, quer dizer, tocávamos junto, lá nos idos do Leblon. Ele não tocava nada. Nem eu. Mas a gente fingia que tocava, que fazia algo sério e nos divertíamos muito.
Depois ele viajou eu fiquei e de repente minha mãe encontrou um bilhete embaixo da porta da casa dela. Michael retornara. Apareceu, zoamos, tocamos, mas só encontrei o Ruy poucas semanas atrás. Eu estava atrasado. De novo.
Mas e agora?
Eu estava cheio de saudade do Michael e agora estou com um treco entalado no pescoço.
Deve ser essa saudade, que agora não tem mais como passar.
Michael provavelmente me mandaria parar de ser chato.
Ele dizia que eu sempre ia um pouco além das palavras.
Agora eu realmente queria ir além...
Irmão, fique na paz, seja a paz.
Com amor
Alex